O ser humano sempre tentou voltar ao passado para entender o presente. Estudar história, por exemplo, sempre nos leva à reflexão. Será que a dor de cabeça, a cefaléia é tão somente fruto da modernidade, da existência em nossa vida do telefone celular, da internet, cadeias de fast-food? Tudo isso pode até contribuir bastante, mas não é só isso, a dor de cabeça é antiga: há relatos de dores de cabeça e tratamentos para ela desde o Egito antigo.

Acredite, os primeiros tratamentos para dor de cabeça datam de 7 mil anos antes de cristo, quando se faziam trepanações (buracos no crânio de pessoas com cefaléia) para que demônios, maus espíritos pudessem escapar da cabeça do paciente. Felizmente os tratamentos para dor de cabeça melhoraram, não?

O Deus egípcio Sobek, concretizado pela imagem de um crocodilo, era uma divindade que simbolizava a terra (Geb), água (Osíris), fogo (Rá) e ar (Shu). A causa das doenças em geral era atribuída ao desequilíbrio dessas forças, por isso os egípcios antigos tratavam as dores de cabeça amarrando sobre a cabeça dos pacientes um crocodilo de argila e associavam a essa estratégia preces e imposição de mãos. Os convênios médicos de hoje provavelmente não cobririam esse tipo de tratamento!

Há relatos de cefaléia até entre os deuses gregos. Zeus com medo que sua esposa Métis desse à luz um filho mais forte que ele, engoliu a mãe grávida. Quando chegou a hora de sua filha Palas Atena nascer, Zeus começou a ter dores de cabeça. Prometeu (Hefestos), vendo o sofrimento do deus, cortou sua cabeça com um machado dourado, e foi assim que Atena nasceu da cabeça de seu pai.

Hipócrates, famoso médico da Grécia antiga (460-370 BC), já descrevia características da enxaqueca quando relatou: “Se um paciente se queixa de dor de cabeça e pontos escuros na visão, vomitos biliosos aparacerão”. Prescrevia ervas que causavam vômitos para cessar as cefaléias. Alexander de Tralles (525-605 AD) atribuía a causa das dores a uma hiperfluidez de humores biliosos e tratava com eméticos (substâncias para provocar vômitos), purgativos, laxativos, além de proibir comidas gordurosas.

No século XVII, Thomas Willis deu o primeiro passo para melhor entendimento das cefaléias. Sua teoria dizia que, na hora da dor, as artérias do cérebro inchavam. O grande marco, porém, veio quando Michael Moskowitz, da Universidade de Harvard, em 1984, apresentou a teoria trigêmino-vascular, propondo que as cefaléias têm origem não só nas artérias, mas também nos neurônios, as células do cérebro.

Um brasileiro também teve importância histórica no desenvolvimento científico das cefaléias: o professor Aristides Leão, que demonstrou o fenômeno da “depressão alastrante”, hoje conhecido como o provável mecanismo da aura da enxaqueca. Aura é um fenômeno neurológico transitório que normalmente antecede ou acompanha crises de cefaléia, especialmente a enxaqueca, são aqueles pontinhos luminosos, linhas em zig zag, ou pontos escuros, duram de 5 a 60 minutos e desaparecem. Aura também pode aparecer como perda de força ou formigamento de um lado do corpo.

FAMOSOS COM CEFALEIAS

A lista de intelectuais e celebridades sofredoras de dor de cabeça, de alguma cefaléia não é pequena. Só para citar alguns: Miguel de Cervantes, escritor de Dom Quixote; Thomas Jefferson, figura central da independência norte-americana; Sigmund Freud, o criador da psicanálise; Napoleão Bonaparte, Karl Marx, Júlio César, imperador romano, Edgar Allan Poe, poeta e prosador; Lewis Carroll, autor de Alice no país das maravilhas, os músicos Tchaikovsky e Chopin ou o biólogo Charles Darwin entre tantos outros.

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