O tratamento das cefaleias, particularmente o tratamento da enxaqueca em geral é dividido em dois tipos: o tratamento agudo (para aliviar a crise de dor de cabeça) e o tratamento preventivo (para evitar o aparecimento das cefaleias). Tanto o tratamento agudo quanto o preventivo pode envolver remédios (medicamentoso / farmacológico) ou não (não medicamentoso / farmacológico).
A meta do tratamento agudo para crise de dor de cabeça ou enxaqueca é promover o alívio da dor o mais rápido possível, sem efeitos colaterais. Outras questões importantes no tratamento da crise de cefaleia é a comodidade da via de administração do remédio (sublingual, via retal, via oral, injetável), a taxa de recorrência (retorno da dor de cabeça em 24 horas), e o custo do tratamento. No entanto, não há nenhuma medicação perfeita. Alívio imediato pode não acontecer, efeitos colaterais podem ocorrer, por vezes é necessário o uso de medicações injetáveis, a dor de cabeça pode voltar no dia seguinte, e o custo dos remédios pode ser alto. Por isso, pacientes e médicos devem se preparar para escolher qual a melhor estratégia para o tratamento da crise de dor de cabeça.
Analgésicos comuns
Analgésicos comuns ou simples, são medicamentos que geralmente não precisam de receita médica, e que são encontrados facilmente em supermercados, bares e lanchonetes. Os mais comuns são o ACETOMINOFENO ou PARACETAMOL, cujo nome comercial é tylenol, e a DIPIRONA, com várias formulações comerciais, Doril, Anador, Cibalena. Muitos analgésicos apresentam também em suas fórmulas a cafeína. O custo destes medicamentos é baixo, são úteis para crises de intensidade leve a moderada, apresentam poucos efeitos colaterais, mas não são eficazes para crises de enxaqueca mais intensas. Há um grande potencial de cefaléia rebote com o uso excessivo de analgésicos (mais que 3 vezes por semana).
Antiinflamatórios
Antiinflamatórios são medicamentos usados para dor em geral. Eles agem em uma substância chamada prostaglandina, diminuindo a inflamação. Vários antiinflamatórios são usados para cefaléias, tais como DICLOFENACO, INDOMETACINA, NAPROXENO, ASPIRINA. São eficazes no tratamento das crises de cefaléia, mas apresentam efeitos colaterais indesejáveis na mucosa do estomago e rins. A INDOMETACINA é uma medicação especial para dores de cabeça. Alguns tipos de cefaléias apresentam uma resposta imediata e duradoura a indometacina, são as cefaléias indometacino-responsivas (Hemicrania continua, hemicrania paroxística crônica, cefaléia do esforço, cefaléia da tosse, cefaléia da atividade sexual, cefaléia em pontadas). NOVOS ANTIINFLAMATÓRIOS (INIBIDORES DA COX-2) como o Etoricoxib (ARCOXIA) e Celecoxib (CELEBRA) são novos antiinflamatórios cuja ação e mais específica para dor, causa menos úlcera gástrica e sangramento. O preço, no entanto, é maior que outros antiinflamatórios convencionais. Recente polêmica quanto à segurança deste anti-inflamatórios fez com que duas substâncias desta mesma classe fossem retiradas do mercado, o valdecoxib (BEXTRA) e Rofecoxib (VIOXX).
Ergotaminas
Ergotaminas são medicações antigas para cefaleias, particularmente enxaquecas, cuja resposta é muito boa em alguns casos. Apresenta efeitos colaterais indesejáveis como vasoconstrição arterial e náusea. Algumas ergotaminas apresentam preparações com cafeína. São medicações com grande potencial de causar cefaléia rebote. Exemplos desta classe de medicações são: Cefalium, Cefaliv, ormigrein, Migrane, Parcel, Tonopan e dihydergot.
Triptanos
Os triptanos são medicações criadas especificamente para o tratamento das enxaquecas. Elas agem nos receptores de serotonina, melhorando a crise de enxaqueca mais rapidamente, com menos efeitos colaterais que as ergotaminas. O primeiro remédio lançado foi o SUMATRIPTANO. Recentemente, outros novos triptans como o RIZATRIPTAN, ZOLMITRIPTAN e NARATRIPTAN estão disponíveis. Apesar de eficazes, o preço dos triptans é considerado ainda alto. A relação custo benefício para o naratriptano é boa.
Além dos remédios, algumas outras estratégias podem ser usadas para o alívio mais efetivo da crise de dor de cabeça. A aplicação de uma compressa fria, ou gelo na região cervical e/ou frontal pode ajudar no alívio da dor. Pessoas com intensa ansiedade na hora da crise, acabam entrando em desespero, chorando, hiperventilando (respirando aceleradamente), o que causa piora dos sintomas da crise de cefaléia. Para tais condições, o treinamento de técnicas de relaxamento pode reduzir e até abolir um número considerável de crises, porém, é preciso um esforço pessoal do paciente maior.
O tratamento preventivo para cefaleias é o principal tratamento das dores de cabeça, o tratamento preventivo, também conhecido como tratamento profilático, visa evitar as crises, torná-las menos intensas, menos freqüentes, e mais responsivas ao tratamento agudo. Expectativas realistas para o tratamento são necessárias, redução das crises em 50% acontecem na maioria dos casos.
Antidepressivos
Mais de 20 diferentes tipos de antidepressivos existem, divididos em várias classes (tricíclicos, inibidores da MAO, inibidores da recaptação de serotonina, serotonina e noradrenalina, serotonina e dopamina) porém poucos são sabidamente eficazes no tratamento das cefaléias. A medicação mais usada e com comprovação científica mais ampla é a AMITRIPTILINA, um antidepressivo tricíclico, cujos principais efeitos colaterais são sonolência (útil para pacientes com insônia), e boca seca. É uma medicação utilizada para depressão, vários tipos de dor, ansiedade, insônia, síndrome do cólon irritável e fibromialgia. Outros antidepressivos são usados para o tratamento da enxaqueca, cefaléia do tipo tensional e cefaléia crônica diária, porém apenas os tricíclicos tem sabida eficácia.
Os antidepressivos são : NORTRIPTILINA, IMIPRAMINA, DOXEPINA (classe dos tricíclicos); FLUOXETINA, CITALOPRAM, SERTRALINA, PAROXETINA, FLUVOXAMINA (classe dos inibidores da recaptação da serotonina); BUPROPRION, AMINEPTINA (inibidores da noradrenalina e dopamina); MIRTAZAPINA, NEFAZODONE, VENLAFAXINA, ROLIPRAM (inibidores da recaptação da noradrenalina) FENELZINE, TRANILCIPRAMINE (inibidores da MAO). Recentemente foi lançada a medicação antidepressiva DULOXETINA, com ação equilibrada de dois neurotransmissores: a serotonina e a noradrenalina, os resultados são promissores. Um novo antidepressivo o VALDOXAN (agomelatina) parece ser promissor no tratamento da enxaqueca.
Neuromoduladores
São também conhecidas como anticonvulsivantes, medicações originalmente usadas para epilepsia, mas que são ótimos preventivos para enxaqueca. O primeiro e mais usado é o ÁCIDO VALPRÓICO. Efeitos colaterais mais comuns são tremores e aumento de peso. TOPIRAMATO também vem sendo usado com eficácia para o tratamento da enxaqueca, e é uma das únicas medicações que podem induzir a perda de peso, porém podem apresentar distúrbios cognitivos e formigamentos como efeitos colaterais. A GABAPENTINA também pode ser eficaz na prevenção da enxaqueca. Outros anticonvulsivantes como a LAMOTRIGINA, CARBAMAZEPINA E HIDANTOÍNA são eficazes para dores do tipo nevrálgicas (dores faciais, neuralgia do trigêmeo). Novos anticonvulsiovantes como o LEVATIRACETAM e a ZONIZAMIDA tem o potencial de também agirem no controle da dor.
Betabloqueadores
São uma das classes de medicações mais antigas no tratamento da enxaqueca e também eficazes. São também usados no tratamento da hipertensão arterial. O PROPRANOLOL e o ATENOLOL são os mais usados, com boa eficácia. Efeitos colaterais são cansaço e depressão. Betabloqueadores são contraindicados em pacientes com asma. Outros betabloqueadores como o NADOLOL, PINDOLOL e METOPROLOL podem também ser usados.
Uma das teorias para as causas da enxaqueca é a de que ocorre um distúrbio dos canais de cálcio (parte da célula nervosa). Medicações que bloqueiam este sistema atuam bem na prevenção da enxaqueca. A mais usada é a FLUNARIZINA, mas outras medicações como o VERAPAMIL também são utilizadas, especialmente no tratamento de enxaquecas hemiplégicas (com perda de força em um dos lados do corpo) e nas cefaléias em salvas.
Outros
RIBOFLAVINA (vitamina B2) e MAGNÉSIO tem sido usados também com sucesso na profilaxia da enxaqueca. MELATONINA pode também ser muito eficaz na enxaqueca quando há tipos específicos de distúrbio do sono envolvidos, e na maioria dos pacientes com cefaléia em salvas. A toxina botulínica pode ser também utilizada.
Várias estratégias não medicamentosas sabidamente melhoram o controle das cefaléias. Identificar e evitar os fatores desencadeantes, não ficar longos períodos sem alimentação, não fumar, evitar o stress, ter um sono regular são úteis no controle das crises de dor de cabeça. Fazer exercícios regularmente pode também reduzir sensivelmente o número de crises. Quando ansiedade, ou depressão, ou crises de pânico, ou fases de mania estão presentes, a psicoterapia cognitiva aumenta o grau de controle das cefaléias. Outras estratégias como o biofeedback, a hipnose são também úteis em alguns casos. Acupuntura pode ajudar, e o uso de fitoterápicos e outros tratamentos não estão ainda bem estudados.
Atenção! Não se auto-medique! Procure um médico para realizar um correto diagnóstico e tratamento. Para marcar uma consulta com o Dr. Mario Peres, clique aqui.